dezembro 29, 2006

Natal



Antes de irmos para a cama colocávamos uma bota na chaminé. O menino Jesus, não sabíamos bem como, por magia talvez, à meia-noite haveria de descer e deixar nela os ansiados presentes . Não podíamos ficar acordadas à espera porque assim ele não viria. Dormíamos mal e, assim que se via a claridade do dia já estávamos na cozinha a tirar os chocolates das botas: sombrinhas , ratinhos e bombons. E aquela boneca que tínhamos cobiçado da montra...Lembro-me de uma de trapos e de uma de papelão. Já não existem, claro, só resta uma de loiça- não me deixavam brincar com ela- que abria os olhos e chorava, ainda mexe os olhos mas só lança um ligeiro gemido. Não havia o culto do pai natal, só em chocolate e ,só anos mais tarde é que começámos a ornamentar o pinheiro.Fazíamos um presépio de papel com figuras que se pintavam , recortavam e colavam em cartão e era decorado com musgo, palha e flocos de algodão.

Assim era o meu Natal quando era pequena, bem diferente dos de hoje.

dezembro 20, 2006

Hypathia



"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber seus ensinamentos."
A Vida de Hipátia, por Sócrates, o Escolástico (em 'História Eclesiástica')

Viveu entre 370 e 415 e terá sido a primeira matemática que se conhece.Era professora de matemática na Escola de Alexandria, os seus escritos foram destruídos, mas sabe-se que escreveu sobre a Aritmética de Diofanto, as cónicas de Apolónio e sobre Astronomia, terá inventado um hidrómetro e o astrolábio. Era muito bela e as suas aulas atraiam discípulos de todos os lados. Foi vítima da luta dos cristãos para se apoderarem dos centros de saber dominados pelos pagãos, acabando por ser assassinada,lapidada a lacerada por fanáticos . Desapareceu assim o último professor da cadeira de matemáticas da Escola de Alexandria.

dezembro 16, 2006

Hoje acordei assim...

Bibi Andersson
...(Que me desculpe a bomba inteligente pelo abuso) ao pensar que faltam oito dias para o Natal e que não comprei prendas para ninguém. E acontece que não estou com imaginação nem tenho pena de não a ter.

dezembro 14, 2006

Stendhal e as mulheres



As mulheres preferem as emoções à razão; simplesmente, como em virtude dos nossos costumes mesquinhos elas não são incumbidas de nenhum assunto de família,a razão não tem utilidade para elas, nem sentem que alguma vez lhes sirva para alguma coisa.É-lhes, pelo contrário, sempre prejudicial pois só aparece para as censurar de terem tido prazer, ou para lhes impor que se privem dele.Deixai a vossa mulher tratar os assuntos com os caseiros de duas das vossas propriedades; aposto que a escrita será mais bem feita do que por vós e então triste déspota, tereis pelo menos o direito de vos lastimar uma vez que não tendes o talento de vos fazer amar. Sempre que as mulheres se entregam a raciocínios em geral, fazem amor sem disso se aperceberem. Nas coisas de pormenor tomam a peito ser mais severas e rigorosas do que os homens. Metade do pequeno comércio está confiado às mulheres que desempenham essa função melhor do que os seus maridos. É conhecida a máxima que diz que ao falar de negócios com elas, se deve fazê-lo com muita seriedade. Isto porque elas estão sempre e em toda a parte, ávidas de emoção(...)

dezembro 12, 2006

O arranha-céus


Depois do Sudoku parece haver agora outro jogo com sucesso usando apenas lápis, borracha e uma grelha quadriculada. Trata-se do jogo do arranha-céus.É um jogo de dedução simples. Imagina-se um bloco da cidade de Nova Iorque representado numa grelha de 4x4. Cada casa da grelha contém um prédio de 10, 20, 30 e 40 andares. Os prédios numa mesma linha ou coluna não podem repetir-se.O objectivo é descobrir como se distribuem os edifícios na grelha de acordo com a informação que é dada na margem através de um algarismo. Esse algarismo representa o número de prédios que um observador vê quando localizado nesse ponto.Por exemplo o 1 na linha superior esquerda significa que nesse ponto só é visível um prédio, a primeira casa terá que ter 40 andares.

dezembro 10, 2006

As mulheres e a matemática

Por vezes há um ou outro aluno, mais curioso, que me pergunta se não houve mulheres matemáticas.Essa questão obrigou-me a investigar e tenho andado a construir uma lista com a biografia das matemáticas mais conhecidas que ponho na minha página para os alunos. São quase todas traduzidas de sites ou livros de língua inglesa. Também deve haver mulheres portuguesas que se dedicaram à matemática, mais talvez ao nível do ensino, mas tenho poucos elementos e nem sei muito bem onde procurar.
Às crianças de hoje parece uma coisa do outro mundo - e era - as mulheres não irem à escola, não aprenderem a ler e, mais tarde quando já lhes era reconhecido esse direito, serem-lhes ainda negados outros, como por exemplo inscreverem-se numa universidade ou pretender estudar matemática. E isso não está ainda muito longe de nós.
As histórias de vida das mulheres matemáticas ao longo dos séculos mostra o esforço, a determinação, a luta que travaram para serem reconhecidas e até admitidas num mundo tradicionalmente masculino.

dezembro 07, 2006

Soneto Soma 14X


de E. M. Melo e Castro ( 1963 )

O soneto "Soma 14X" é composto de números e, nesse sentido, conhecendo algumas da regras compositivas do soneto, e observando, que no caso deste poema, a soma dos números de um verso devam totalizar 14, é possível subtrair-se alguns versos c pedir a alguém que complete os versos faltantes, num raro exercício de análise matemática da forma.
O soneto em questão, apresenta rimas numéricas, assim, no caso da reconstituição é possível, sabendo-se com qual determinado verso rima, já saber de antemão qual o último dos cinco números que compõem o verso. Os outros quatro números do verso, resultaram de uma soma baseada no fato do total do verso dar 14, e de que não há um só verso repetido neste soneto. Observe-se ainda, que o último verso deste soneto, o verso "chave de ouro" dá soma 28 (duas vezes 14), como que a querer dizer que é um verso que vale mais do que os outros.
Numericamente, portanto, é possível neste nosso exercício de reconstrução produzir variantes do soneto, mas que funcionalmente, exerceram o mesmo papel desempenhado pelo original de Meio e Castro, que crítica justamente a forma padrão para o fazer poético.
Cabe observar ainda, que se retirássemos não um verso, mas somente um número de cada verso, a possibilidade de reconstrução integral do soneto em relação ao original, seria de 100%

Extraído de LUNA, Jayro. Caderno de Anotações. Belo Horizonte/São Paulo: Signos/Editora Oporetuno, 2005. p. 74-75


A nossa Maria

A nossa primeira dama deu a sua primeira entrevista à Visão. E declara-se do centro-esquerda.O que será isso exactamente? Para nos elucidar - se é que isso tem interesse - deveria ter dito mais qualquer coisa. Por exemplo: é democrática ou autoritária? é liberal ou intervencionista? é reformista ou pragmática? Também acrescenta que não é católica conservadora ao contrário do que muitos pensam. A vida reserva-nos muitas surpresas.

dezembro 02, 2006

Será desta...

Durante muito tempo, costumava deitar-me cedo. Às vezes, mal apagava a vela, os meus olhos fechavam-se tão depressa que eu nem tinha tempo de pensar: "Adormeço". E, meia hora depois, despertava-me a ideia de que já era tempo de procurar dormir; queria largar o volume que imaginava ter ainda nas mãos e soprar a vela; durante o sono, não havia cessado de reflectir sobre o que acabara de ler, mas essas reflexões tinham assumido uma feição um tanto particular; parecia-me que eu era o assunto de que tratava o livro: uma igreja, um quarto, a rivalidade entre FranciscoI e Carlos V.

É desta maneira extremamente simples e vulgar que começa um livro que ainda não li:" Em busca do tempo perdido". Será por causa do título que nunca me resolvi a fazê-lo?