julho 22, 2004

Insegurança

Mais um episódio sangrento na minha rua. Desta vez agrediram um empregado e o dono de uma loja de electrodomésticos mesmo por baixo da minha janela. Motivo: as referidas pessoas teriam chamado a polícia porque um grupo de vagabundos estava a fazer muito barujho na via pública. E era verdade. Como de costume, umas vezes mais do que outras, um grupo de marginais cuja fonte de rendimento não é o trabalho por conta de outrém com descontos para o IRS, passa o dia desde as 8 da manhã até de noite com os seus carros estacionados e as suas músicas tipo tecno em altos berros. Isto intercalado com palavrões ,pois é só assim que falam uns com os outros. De vez em quando há um silêncio suspeito...nem é preciso grande raciocínio para adivinhar o que aconteceu: chegou a polícia. Evaporam-se quando ela aparece.
Em plena cidade deLisboa, posso sair à rua e ser agredida porque alguém pensou que eu me queixei à autoridade. Estamos mal quando me impedem de exercer um direito - protestar porque estou a ser incomodada - podendo sofrer represálias.consequências

julho 15, 2004

Lembranças

Já vivo há muitos anos numa cidade diferente daquela em que decorreu a minha infância e adolescência. Volto lá pelo menos duas vezes por ano para ver a família nas épocas tradicionalmente designadas para o efeito Poderia ir mais vezes e tenho pena de não o fazer. O tempo vai passando e não se faz o que se gosta e o que se quer.Um dos desejos que vou adiando é passear por essa cidade só, percorrer o caminho que fazia quando ia para a escola primária, as ruas que conheço mas de que quase esqueci os nomes(porque como não falo delas vou esquecendo), constato agora que não me lembro do nome de nenhuma dessas ruas, eram 5 até chegar ao jardim da Corredora que tinha que atravessar. Mas não me esqueci dos cheiros, dos perfumes, reconheço-os em cada primavera em certos locais de Lisboa.
Além do percurso pelas ruas gostava de voltar ao meu liceu que é agora uma escola superior de educação. Deve estar muito diferente mas queria ver as salas, o pátio e, principakmente, a Biblioteca: era o meu local preferido, fascinavam-me aquelas centenas de livros com o seu cheiro próprio a papel amerelecido misturado com a cera do chão,um cheiro a mistério. Devo estar a ficar velha...

julho 11, 2004

A ver vamos

O nosso presidente tomou, então ,a decisão que tanta letra está a fazer correr. Não sou analista política nem tenho pretensões a tal: vou ouvindo e lendo e às vezes não sei que conclusões tirar porque sou uma pobre mortal afastada de lides partidárias já há muito tempo. De algumas coisas gosto de outras não. Não gostei da entrevista da Ana Gomes na TV, esta mulher devia estar calada quando fala em cima dos acontecimentos a quente. Gostei da crónica do VPValente no DN de 10 de Julho "Um par" referindo-se a Santana e a PPortas e concluindo ..."O populismo não suporta dois "chefes". E o "chefe" é ele.".
Quanto ao Féfé se calhar fez o que devia fazer: demitiu-se dos cargos.
O mais lógico para mim é pensar que este novo governo não se aguenta muito tempo e teremos eleições antecipadas, mas por vezes, o diabo tece-as...
Há a garantia de que vai ser cumprido o programa do governo anterior. Será que isso interessa ao povo português, a maioria assim o decidiu, mas está-se a ver que não nos serve: cada vez somos o pior em tudo só o futebol "quase" nos salvou.

julho 01, 2004

Àrvores do Alentejo

Horas mortas faz-me lembrar Florbela Espanca. Nos meus tempos de adolescente sofredora, incompreendida e de paixões não correspondidas, alguns poemas de Florbela, que ainda por cima, era alentejana, eram um alimento para a minha tristeza.

Recordo aqui esse poema:

Horas mortas...curvada aos pés do Monte
A Planície é um brasido...e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas
Gritam a Deus a bênção de uma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Almas! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!