junho 30, 2005

Um dia

Saltou da cama determinada como se tivesse pela frente um dia cheio de tarefas inadiáveis. Tomou consciência de que apenas tinha uma - ir à casa de banho.
Bebeu água e fez chá. Depois ficou sentada a olhar para a rua.
Apareceram os gatos. Claro, a comida, a água e a areia. E era isso a sua vida: Cuidar de alguém felino ou humano.
Enumerou mentalmente o que se esperava que ela fizesse de manhã e não lhe apeteceu fazer nada.Mas passados uns minutos de insubordinação, resignou-se.
Os outros dormiam felizes por só terem de cuidar de si próprios.

junho 28, 2005

o cruzado

Mais uma vez o João César das Neves resolveu sair do seu campo da economia para a sua acção missionária em prol da moral e da família. Veja-se no DN "A liberdade que mata a liberdade". Se alguém que me enfureça terrivelmente é este homem. Ele dirá que é por ter razão. Não. É por dizer tanto disparate. Desta vez apresenta a mulher vítima da liberdade. A grande sacrificada. Para ele deviamos estar em casa a tratar dos filhos e a salvaguardar o repouso do guerreiro, quem sabe, talvez à espera que o senhor nos prenda a um tanque de lavar roupa quando ousarmos levantar os olhos para ele.

junho 23, 2005

Profs

Tanto se tem dito sobre os professores que quase tenho medo de, ao sair à rua ser identificada pelo andar, ou por qualquer tique incontrolável e, atrair a fúria de pacatos cidadãos enfurecidos.

junho 21, 2005

Sartre

Nasceu há cem anos. Influenciou a minha vida nomeadamente na maneira de encarar o sexo e as relações afectivas. A quem não marcou.
"Acho que fui eu que mudei: é a solução mais simples. A mais desagradável também. Mas, enfim, tenho de reconhecer que sou sujeito a estas transformações súbitas. Sucede que só muito raras vezes penso; assim uma infinidade de pequenas metamorfoses vai-se acumulando em mim sem eu dar por isso, e depois, um belo dia, produz-se uma verdadeira revolução.Foi o que deu à minha vida estes solavancos, este aspecto incoerente."
A náusea

junho 20, 2005

Que seca

Ultimamente vários jornalistas, ou comentadores, nos jornais diários referiram os encantos de Lisboa quando os jacarandás se cobrem de cor lilás. Reparei hoje que os da avenida D. Carlos já não estão em flor. Provavelmente devido ao excesso de calor.
Terá Lisboa ficado menos bonita?
De que é que se há-de falar agora? Sem ser das greves aos exames, os atentados aos direitos dos funcionários públicos, o "arrastão" de Carcavelos, a manifestação autorizada da direita...as férias dos tribunais... Tanta coisa ! Mas estou sem paciência e tenho sono.

junho 14, 2005

Cunhal

Os jornais hoje estão repletos de Álvaro Cunhal.Quase que fazem uma disputa para ver qual tem mais páginas elevando-o a herói nacional.Quando era pequena e até pouco depois do 25 de Abril, o PC aparecia-me como algo misterioso, clandestino, cheio de pessoas que sofriam, eram presas, torturadas e mortas pelos seus ideais. Lembro-me de ter chorado copiosamente a ler "Os subterrâneos da Liberdade" de Jorge Amado. Mas isso foi uma parte da história- a luta contra o fascismo.Parece que por esse motivo conservámos uma espécie de complexo que nos inibe de criticar os comunistas.
Os militantes do partido comunista enervam-me tal e qual como os católicos.Julgam-se detentores da verdade, têm um comportamento missionário ,ignoram a História.

junho 13, 2005

O amigo secreto

O James Dean era para os meus catorze anos um símbolo. Representava a adolescência incompreendida, toda a minha revolta e violência contra o mundo adulto que me abafava.Era, assim, o amigo desconhecido mas com rosto, apesar de morto,a quem eu dirigia o meu diário secreto que escondia em casa de uma amiga cúmplice. Nunca deixei de o achar belo. Mais tarde vi os três filmes em que entrou. Muita da magia da revolta que ele personificara para mim já não tinha o mesmo encanto. Mas ainda hoje tenho uma foto dele na parede do meu quarto.

junho 11, 2005

Manifesto

Encontrei no blog renas e veados este manifesto:
MANIFESTO
«Está em curso uma campanha a partir de uma notícia publicada em 14/5/05 pelo jornal “Expresso”, sobre pretensos manuais escolares que serviriam de suporte a um programa de educação sexual implementado nas escolas portuguesas, em parceria com a Associação para o Planeamento da Família. Tais manuais conteriam imagens, actividades e instruções chocantes e atentatórias ao bem estar das crianças, jovens e suas famílias.

Ora esta campanha está baseada numa notícia que é falsa. Como confirma a nota do próprio Ministério da Educação, não existe qualquer programa de educação sexual em curso nas escolas (oficial ou não oficial); não existem manuais ou textos de apoio de suporte a este (inexistente) programa; nem existe qualquer aplicação experimental dos manuais referidos. Não existe portanto, em bom rigor, notícia.

Em democracia, o confronto de valores é sempre legítimo e desejável. Mas confundir ou criar factos por medida, a propósito de uma evidência inexistente (!) tendo em vista fins delatórios, é uma manipulação perversa da opinião pública e um atentado aos princípios básicos da cidadania.

A forma como são apresentadas as actividades referidas na notícia constitui uma deturpação grosseira dos objectivos, conteúdos e metodologias de educação sexual prosseguidos pela APF e por outras instituições envolvidas na promoção da educação sexual nas escolas.

Lembremos que os promotores desta campanha são cidadãos e grupos pertencentes a sectores que sempre se opuseram à educação sexual nas escolas, empenhados em importar e impor, neste domínio, um modelo educativo único com uma forte carga moralista, confessional e uniformizadora dos valores e dos comportamentos em matéria de sexualidade. A campanha está também a ser apoiada pelos grupos de extrema direita existentes em Portugal. Ora a legitimidade que possuem na defesa destes valores não se pode confundir com a inaceitável reconstrução falsa que fazem da realidade.

O objectivo é afinal desacreditar a APF, destruir os tímidos avanços já conseguidos, amedrontar e confundir as famílias, as escolas e os profissionais que estão ou pretendam estar envolvidos na promoção da educação sexual.

Não está, pois, só em causa a APF. Está em causa a continuidade do que, tão dificilmente, já se conseguiu alcançar em matéria de educação sexual no nosso país. Está em causa o direito de as crianças, os jovens, e as suas famílias terem acesso a informação credível e actualizada, a uma educação sexual cientificamente consistente, dada por profissionais e assente em princípios humanistas - entre os quais se destaca a ideia de que a construção da identidade sexual é um processo interior e diferente de pessoa para pessoa, e que por isso todas as crianças e jovens devem ser respeitadas na sua intimidade (a qual não pode ser objecto de qualquer tratamento ou exposição públicos). Está em causa a pluralidade dos valores da sociedade portuguesa, a qual afinal se pretende condicionar de forma eticamente inaceitável.

Neste contexto, os abaixo assinados:

1. Repudiam a campanha mentirosa e alarmista que está em curso contra a educação sexual nas escolas e a APF.

2. Sugerem ao Ministério da Educação e à Assembleia da República que avaliem a aplicação da legislação existente em matéria de educação sexual – Lei 3/84, da Lei 120/99 e do DL 259/2000 – e façam um balanço do que tem sido já realizado e o que está ainda por realizar.

3. Sugerem ao Ministério da Educação que promova iniciativas urgentes para a generalização da educação sexual nas escolas, continuando o processo iniciado em 2000 e que foi posteriormente interrompido.

4. Sugerem ao Ministério da Educação a reorganização urgente das estruturas de promoção da saúde nas escolas a nível central, regional e local, as quais estão paralisadas desde o início de 2003.

5. Reconhecem o papel fundamental e pioneiro que a APF tem tido nas últimas décadas como espaço de reflexão, estudo, proposta e formação de professores e outros profissionais para uma intervenção adequada em educação sexual.

6. Reconhecem o papel da APF no apoio directo aos jovens portugueses e no apoio a milhares de famílias na promoção da educação sexual dos seus filhos.»

junho 10, 2005


Em 30 de Setembro faz 50 anos que morreu. Posted by Hello

junho 08, 2005

A minha ignorância

É verdade! Eu bem tenho tentado, no meio da confusão que é a minha vida,arranjar um espaço para me documentar e responder à questão: Devo votar SIM ou NÂO à Constituição europeia? Mas nenhum post ou artigo que li me motivou o suficiente para chegar ao fim da sua leitura, quanto mais para responder à pergunta. Que assunto mais chato! Mas para que quer a Europa uma Constituição? É porventura um estado? A constituição serve para salvaguardar os direitos dos particulares face ao estado.
Enfim, acho que não me sinto europeia a ponto de querer uma constituição. Sou ainda só portuguesa.

junho 03, 2005

Epigramas amorosos

Estava um dia deitado sozinho entre duas mulheres,
desejando uma, agradando à outra.
A que me amava atraía-me; eu, por meu lado, como um ladrão,
beijava furtivamente a outra,
iludindo os ciúmes da vizinha, pois temia
a sua vigilância e o anúncio do fim
dos nossos amores. Então, enfadado, dizia para mim:"Na verdade,
ser amado
e amar é igualmente penoso e um duplo flagelo."
de Agátias,o Escolástico (536-582d.C.)