dezembro 27, 2005

Quase ano novo


Aqueles dois dias - véspera e natal - passaram. Já estou em casa. Trocaram-se prendas, já não com aquela magia de há anos, já não há crianças. Mas é sempre giro. Recordam-se outros natais, recentes e antigos e depois tudo volta aparentemente à realidade. Não me sinto nada animada para mais um ano: viver cansacomo diz o Pavese.
Mas até estou entusiasmada com um acontecimento! Vai haver este ano, em Fevereiro no CCB uma exposição de obras da Frida Kahlo - não vou deixar de ver.

dezembro 18, 2005

Perder

Estou a vê-lo a chegar a casa numa dessas manhãs frias antes do Natal. Carregado com couves, agriões ou tangerinas cuja qualidade e oportunidade seria regularmente criticada. Esfregava as mãos uma na outra, depois dessa caminhada pelas hortas dos amigos:
Que briol! Mas o frio é que enrijece!
Há sete anos que estou órfã de pai.

dezembro 14, 2005

Livro de reclamações

Parece haver mesmo um gostinho pela perseguição aos professores por parte de alguma(?) comunicação social. Hoje na TSF, a propósito do livro de reclamações que passa a ser obrigatório em vários serviços públicos, nomeadamente escolas, a jornalista pertinente perguntou: pode-se deduzir que poderão ser feitas reclamações contra os professores nesse livro? Ao que a visada respondeu um pouco engasgada: bem, tem que imperar o bom senso tanto mais que uma queixa, a provar-se a razão, implica uma multa.
Era só o que nos faltava.
O que é estranho é a jornalista não se ter lembrado de mais nada.

dezembro 13, 2005

Estudos

Que pena! Acabaram as grandes discussões e argumentações lógicas sobre a inexistência de Deus. Tudo se resume, segundo uns estudos(?) recentes a uma questão química. Quem acredita tem serotonina no cérebro, quem não acredita não tem... era tudo tão fácil afinal, sem falar na questão genética que também parece dar uma espritadela. Bem haveria quem gostasse que fosse assim, mas o estudo apenas parece indicar que o nosso cérebro está bem equipado cognitivamente para acreditar e mais nada.

dezembro 03, 2005

Ideias

Uma amiga dizia-me há dias que eu estou a virar para a direita. Isto a propósito de não fazer coro contra a ministra da educação e as suas medidas autoritárias. Em relação ao autoritarismo ou autismo com que as medidas foram aplicadas até não estou em desacordo mas, em relação às medidas propriamente ditas estou.Claro que as escolas não têm condições para serem os tais locais educativos a tempo inteiro, mas talvez seja a altura de se fazer algo mais do que lamuriar e começar a trabalhar para que o sejam. Os sindicatos só sabem falar nos direitos adquiridos, pouco têm falado em condições de trabalho. Só sabem falar em comissões eleitas democraticamente e em autonomia - o que querem dizer com isso? Será que por as direcções serem eleitas "democraticamente"(?) garantem uma boa gestão?. A minha experiência e, já é alguma, diz-me que não. É um pouco estranho um processo eleitoral em que os que estão no poder vão controlar.

dezembro 01, 2005

Lembro-me

Acho que posso dizer que a minha educação sentimental e as minhas primeiras ideias feministas surgiram na pré adolescência com a leitura de Camilo. Talvez seja estranho. Levava as férias do Verão - aquilo é que eram férias grandes - a devorar o que havia em casa e na biblioteca pública. Penso que li quase tudo. Aquela mulher apaixonada, mas sem vida própria, dependente do pai ou do marido, incapaz de lutar contra o seu destino determinista foram as minhas primeiras referências. Também sofri de um estranho fascínio pela Ana Karenina, obra proibida, lida em inglês às escondidas.Nessas longínquas férias lia também livros sobre a 2ª. guerra e de história, tipo vida quotidiana no tempo dos romanos. Fazia palavras cruzadas e resolvia exercícios de matemática. Sonhava acordava com o que faria "quando fosse grande" e nada me estava vedado. Mas era tudo muito nublado muito inocente, pois não tinha referenciais vividos para imaginar de outro modo. Pensava em fugir de casa mas sabia que nunca o faria; "sempre que leio nos jornais de casa de seus pais desapareceu embora sejam outros os sinais julgo sempre que sou eu"( Carlos Queirós). Imaginava-me a conhecer um rapaz extrordinário, mas essa relação era quase platónica.
E olhava para a minha mãe e via o futuro que não queria ter. Não tive.