junho 27, 2006



Sentia-me há dias como um nó de Escher. Agora já não tanto. Poucas coisas há que não resistam ao tempo...

junho 24, 2006

O dito

Há muito tempo que ela andava para lhe fazer aquela pergunta. Muito tempo? Anos.Fervia-lhe debaixo da língua, da pele. E a resposta foi a que ela queria ouvir, a que esperava há anos que ele lhe fizesse. Era uma pergunta perigosa porque a partir desse momento o não dito estava dito e não se pode viver com o dito como se ele ainda fosse não dito.

A vida viva da palavra dita,
A vida longa da palavra escrita,
A vida das palavras por dizer-
Qual dura? Qual é ser? Qual é


(Fernando Pessoa- 1930)

junho 21, 2006



Hopper - Hotel Room, 1931

Que sensação agradável: não ter compromissos. Fazer o que apetece e nada fazer se for esse o caso. Já não há reuniões, não há actas, não há discussões. Agora vou esquecer tudo durante uns dias com uns livros policiais.

junho 20, 2006

O que diz Nuno Crato

Na Pública de domingo passado vem uma entrevista de Nuno Crato, o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, claro, sobre o ensino e as últimas da ministra. Destaco o seguinte extracto: (...) Ora a avaliação é necessária. Mas quem escreveu o novo estatuto da carreira docente conseguiu introduzir um artigo que liquida toda a capacidade de avaliação dos professores. Trata-se do artigo sobre o conteúdo funcional da docência(36º-2), aquele que estipula quais são as funções dos professores. E as funções dos professores deixaram de ser ensinar. Aparece ali listado um número inacreditável delas:os professores aparecem transformados em animadores culturais, em mediadores entre a família e a escola, etc;e a sua função primeira não é ensinar, mas sim criar "situações de aprendizagem". Aliás,curiosamente, a palavra "ensinar" não aparece uma única vez no documento, que tem 55 páginas. Não é isto sintomático?
Na verdade, liquidou-se de vez qualquer capacidade de avaliação dos professores. Vai-se avaliar o quê? Se o professor criou situações de aprendizagem? Se o professor se relaciona bem com as famílias? Se relaciona bem com os colegas? É isso que vamos avaliar?

Acho que vale a pena ler o artigo todo.

junho 19, 2006

telemóveis

Sou do tempo em que os telemóveis eram uma obra de ficção. Quando apareceram, a minha reacção, lembrando situações como as contadas em 1984, foi de negação. Nunca na vida teria um. Sentia-me oprimida com um objecto que me denunciava e perseguia. Não o comprei mas ofereceram-mo.( Penso que não foi com intenções persecutórias). Não sou uma dependente, raras vezes o uso e em público- na rua , nos transportes- detesto. Reconheço que é um objecto útil mas também tem desvantagens,
Que bom chegar a casa à hora que se deseja sem ter que estar a todo o momento a explicitar em que rua estou, onde vou e não vou...
Não sei quantas relações já terão terminado pelo e com o seu uso. sem esquecer as indiscrições.

junho 15, 2006

Canções de beber

Quando nos falta o engenho ou a arte para falar do que sentimos podemos sempre recorrer a quem tal teve de sobra. Fernando Pessoa em 1931 fala como por mim hoje:

Não fiz nada, bem sei, nem o farei,
Mas de não fazer nada isto tirei,
Que fazer tudo ou nada é tudo o mesmo,
Quem sou é o espectro do que não serei.

Vivemos nas encostas do abandono
Sem verdade, sem dúvida nem dono.
Boa é a vida, mas melhor é o vinho.
O amor é bom, mas é melhor o sono.

junho 14, 2006

Formação integrada?


Os meus alunos querem ser bailarinos.Nem todos conseguem, digamos antes, muito poucos conseguem. Em 2004/2005 chegou ao fim do secundário o grupo dos meus primeiros alunos nesta escola. Desse já distante segundo ciclo formado por trinta e sete alunos distribuídos por três turmas, chegaram ao fim - e foi um grupo fora de série - doze. E desses ,três não acabaram a parte não artística, a chamada formação geral ou académico. Têm grande capacidadede trabalho e disciplina mas isso é notório mais na dança.
A partir do oitavo ano torna-se difícil- talvez pela própria cultura que a escola propaga - mobilizá-los para um esforço suplementar.E apesar das turmas serem muito pequenas - não temos o drama das turmas superlotadas e cheias de meninos malcriados - o sucesso não é de 100% e a toda a hora nos queixamos. Falo mais pela matemática porque aqui a ausência de um esforço continuado é quase fatal. Agora vão fazer o exame do nono ano. Alguns resolveram só trabalhar a Português porque concluiram que não adiantava nada perder tempo com a Matemática. E a pobre professora vai todos os dias dar-lhes aulas suplementares a que só aparecem de dois a quatro alunos.

junho 11, 2006

Uma ajuda para a avaliação

Avaliação

A . EXERCÍCIO: 6 + 7 = 18

B . ANÁLISE :A grafia do número seis está absolutamente correcta;O mesmo se pode concluir quanto ao número sete;O sinal operacional + indica-nos , correctamente, que se trata de uma adição;Quanto ao resultado, verifica-se que o primeiro algarismo (1) está correctamente escrito - corresponde ao primeiro algarismo da soma pedida. O segundo algarismo pode muito bem ser entendido como um três escrito simetricamente - repare-se na simetria , considerando-se um eixo vertical! Assim, o aluno enriqueceu o exercício recorrendo a outros conhecimentos ... a sua intenção era, portanto, boa.

C . AVALIAÇÃO :Do conjunto de considerações tecidas nesta análise, podemos concluir que:A atitude do aluno foi positiva: ele tentou!Os procedimentos estão correctamente encadeados : os elementos estão dispostos pela ordem precisa.Nos conceitos, só se enganou (?) num dos seis elementos que formam o exercício, o que é perfeitamente negligenciáveis.Na verdade, o aluno acrescentou uma mais-valia ao exercício ao trazer para a proposta de resolução outros conceitos estudados - as simetrias...- realçando as conexões matemáticas que sempre coexistem em qualquer exercício...Em consequência, podemos atribuir-lhe um ......"EXCELENTE"......e afirmar que o aluno......" PROGRIDE ADEQUADAMENTE"!!!

Fonte: http://www.reniza.com/matematica/humor/avaliacao.htm

junho 09, 2006

Summertime ( Hopper )


Hoje apetecia-me estar assim...

junho 07, 2006

A avaliação dos professores

O debate sobre a avaliação dos professores anda por aí. Estas ideias vieram no blasfémias:

Avaliar sim, mas não assim
Lendo o que os professores (e não só) vão escrevendo nos blogs e nos jornais concluo que:

a) todos são a favor da avaliação;

b) mas ninguém é a favor "desta avaliação".

"Esta avaliação" é qualquer tipo de avaliação que esteja a ser discutida num dado momento. Assim, a avaliação não pode ser feita pelos pais (são incompetentes e interesseiros), nem pelas notas de exame (não entram em conta com o meio socio-económico), nem pela burocracia do ministério (a máquina é pesada e cega). Não pode ser feita por mecanismos de mercado (a educação não é uma mercadoria) nem pelo coordenador de departamento (amiguismo) nem pelo conselho executivo (nepotismo). Não pode ser feita por exame de admissão à entrada da profissão (estariamos a desconfiar das universidades públicas) nem por provas de doutoramento (as universidades baixariam os critérios de exigência para conseguir clientes). Curiosamente, o sistema de avaliação que reúne mais consenso é o actual.
JoaoMiranda

junho 05, 2006

My Marilyn ( paste up )


Vista por Richard Hamilton ( 1966 )- a transformação de um indivíduo num objecto de consumo.
Se fosse viva tinha oitenta anos . Alguma coisa teria sido como foi?

junho 04, 2006

A violência nas escolas e outras

Talvez seja feio - ou politicamente incorrecto - mas não consigo deixar de rir quando me lembro da frase do Júdice no último Eixo do Mal : O que foi a GNR fazer para Timor? Deviam ficar cá e ir para as escolas portuguesas!