Acho que posso dizer que a minha educação sentimental e as minhas primeiras ideias feministas surgiram na pré adolescência com a leitura de Camilo. Talvez seja estranho. Levava as férias do Verão - aquilo é que eram férias grandes - a devorar o que havia em casa e na biblioteca pública. Penso que li quase tudo. Aquela mulher apaixonada, mas sem vida própria, dependente do pai ou do marido, incapaz de lutar contra o seu destino determinista foram as minhas primeiras referências. Também sofri de um estranho fascínio pela Ana Karenina, obra proibida, lida em inglês às escondidas.Nessas longínquas férias lia também livros sobre a 2ª. guerra e de história, tipo vida quotidiana no tempo dos romanos. Fazia palavras cruzadas e resolvia exercícios de matemática. Sonhava acordava com o que faria "quando fosse grande" e nada me estava vedado. Mas era tudo muito nublado muito inocente, pois não tinha referenciais vividos para imaginar de outro modo. Pensava em fugir de casa mas sabia que nunca o faria; "sempre que leio nos jornais de casa de seus pais desapareceu embora sejam outros os sinais julgo sempre que sou eu"( Carlos Queirós). Imaginava-me a conhecer um rapaz extrordinário, mas essa relação era quase platónica.
E olhava para a minha mãe e via o futuro que não queria ter. Não tive.
1 comentário:
Adorei O que Fazem Mulheres. Acho que o Camilo compreende a psicologia feminina ainda melhor que as próprias mulheres.
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