Há pouco mais de meio século ( que assustador! ) deslocou-se a minha mãe do alto do Alentejo para o centro, a casa dos meus avós para, assistida por uma "curiosa" e ajudada pelas mulheres da família eu vir a este mundo. Dos factos não reza a história, que é como quem diz :não há registos fotográficos da ocorrência. Mas até sou capaz de imaginar a cena como se tivesse conservado na memória a ansiedade e azáfama de panos quentes ,bacias de água a ferver da cozinha para o quarto onde a jovem mãe gemia.Muito diferente dos meus partos: sózinha entre gente estranha num quarto super aquecido de hospital desinfectado, ouvindo os gritos de outras - enfim, uma espécie de filme de terror. Sei que a seguir me enfaixaram para que o meu umbigo fosse digno de ser olhado, coisa que faço muita vez.
A minha primeira foto foi tirada com uns quatro meses - as classes baixas não tinham kodakas - e estou ladeada pelos meus pais que me sorriem embevecidos. Só o devem ter feito enquanto era analfabeta porque não me lembro de outra cena como essa. Claro que me amavam, como se costuma dizer, à sua maneira, seca e sem demonstrações. Herdei essa característica de amar, só sou efusiva quando estou apaixonada,o que feliz ou infelizmente não pode ser um estado permanente. Mas é verdade, o que tem de ser tem muita força - é difícil contrariar as heranças genéticas. Pelo menos assim me justifico quando criticam alguns dos meus comportamentos.