No tempo do Estado Novo são conhecidos casos de perseguições políticas a matemáticos: Bento de Jesus Caraça, Ruy Luís Gomes e Aniceto Monteiro ( possivelmente houve mais que eu não conheço).
Decorrem este mês homenagens a Aniceto Monteiro pelo centenário do seu nascimento.
Grande parte da sua vida passou-se fora de Portugal, na Argentina. Pode-se perguntar que mal teria feito este brilhante matemático para não desenvolver uma carreira no país.
Tirei este texto do de rerum natura que esclarece a razão:
O extraordinário é que, apesar do seu evidente mérito, o jovem matemático não encontra emprego numa escola superior. Entre 1938 e 1943 ensinou sempre sem remuneração regular, ganhando a vida com explicações particulares e trabalhando num catálogo bibliográfico no Instituto de Alta Cultura. O que impedia a transmissão do seu saber nas escolas públicas? Pois o sábio não quis assinar um papel de fidelidade ao Estado Novo, que era indispensável para se ser funcionário público. O seu amigo Armando Girão conta na fotobiografia a inteligente resposta de Monteiro:“Perante a teimosia do Aniceto perguntei-lhe por fim se ele afinal era comunista e por isso não assinava o papel? – E logo o Aniceto retorquiu: - Não sou comunista nem acredito que venha a sê-lo – mas a declaração diz que “não sou nem serei...”, e não aceito limitações à minha inteligência!” O destino inevitável era o exílio. Com ele era também a matemática portuguesa que se exilava.
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