julho 04, 2005

Querido Bambi

Estive a ler um artigo da última Veja "En la tierra de Bambi" de Ruth Costas. Não sabia que a imprensa chamava Bambi ao Zapatero por ele ter um geito meigo como o Bambi.O artigo refere a "obstinação, por vezes quixotesca, com a qual ele tenta impor uma revolução de costumes e valores à sociedade espanhola"contrária à doçura do herói de Disney". Isto a propósito da legalização do casamento gay, chegando mais longe que outros países ao chamar-lhe "matrimônio" e permitindo a adopção de crianças por casais gays. Para a jornalista isto poderá ser um problema porque ,segundo ela, a Espanha que "está sendo criada nos gabinetes do governo pode estar um tanto à frente da Espanha real, formada por gente que nem sempre vê as mudanças como bons ventos de modernidade. Além disso algumas medidas abeiram o absurdo.Um exemplo é a aprovação parlamentar de uma emenda ao Código Civil que obriga os casais a dividir as responsabilidades domésticas.Criada para acabar com a praga dos maridos que não levantam um dedo para ajudar as mulheres nas tarefas de casa, a cláusula fez com que lavar, passar e cozinhar se tornassem deveres reconhecidos por lei em Espanha."
Mais à frente comenta que "sempre que as leis caminham muito mais rápido que as ideias e os costumes da sociedade que pretendem regular, tendem a ser ignoradas ou a gerar polémica, dividindo a população em grupos pró e contra as mudanças". Termina com a afirmação de um sociólogo espanhol, Victor Sampedro:"Não adianta os projectos do governo serem politicamente correctos. O que interessa é saber se vão ser socialmente efectivos e se os espanhóis estão preparados para colocá-los em prática".
Tudo isto fez-me lembrar velhas discussões, nomeadamente se se deve esperar que as mentalidades mudem para fazer uma determinada lei ou, sabendo como as mentalidades são difíceis de mudar, se não se deve começar antes por aí. Por outro lado estas ideias de mudança não existem só na cabeça do Zapatero . Há muito que existe um movimento reivindicativo- poderão dizer que é minoritário?-a que estas leis vêm dar resposta. Claro que ter uma lei muito avançada sem ser eficazmente regulamentada, e que não é acompanhada por movimentações, por esclarecimentos da população poderá resultar em fracasso por as pessoas não estarem a sentir as mudanças como necessárias.
Mas não é por a lei estar à frente das ideias conservadoras da população que esta ficará dividida em grupos pró e grupos contra, isso acontece com tudo porque, felizmente, as pessoas não pensam todas de mesmo modo, mas se há uma lei deve ser cumprida enquanto não for alterada.

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