março 19, 2005

Primavera

Por magia as árvores vestiram-se.
Quando era pequena fazia-me confusão o que eu considerava uma contradição. Pois no Inverno os Humanos e outros animais cobriam-se e as árvores despiam-se. Com o calor acontecia o inverso. Só mais tarde percebi a razão. As plantas fascinam-me, não pelo aspecto, pela imagem bela, mas por toda a evolução silenciosa que elas representam, talvez por ser menos evidente que nos animais ou por pensarmos menos nelas como nossos parceiros.
Desde criança que tenho o hábito ( alentejano, provinciano?) de "ir à janela ver quem passa ".
Gosto de ver as pessoas atarefadas com as compras, a despejar o lixo que separaram, a passear os cães, a deitar o lixo para o chão - o que é muito frequente ainda- como vai a venda de droga, se a polícia aparece, mas não é por gosto pela vida alheia. Gosto de olhar. Moro aqui há trinta anos e não sei o nome nem a profissão de ninguém nem dos que moram no meu prédio. É triste.
A última vez que fui à janela, entre outras observações, analisei o estado vegetal das oito árvores e, apenas uma verdejava, talvez porque apanha mais sol. Agora, depois destes dias quentes a situação alterou-se: apenas duas estão despidas. Devem estar mortas ou doentes porque não encontro uma explicação lógica para o facto. A primavera avisa que chega ao calendário para a semana.

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