Horas mortas faz-me lembrar Florbela Espanca. Nos meus tempos de adolescente sofredora, incompreendida e de paixões não correspondidas, alguns poemas de Florbela, que ainda por cima, era alentejana, eram um alimento para a minha tristeza.
Recordo aqui esse poema:
Horas mortas...curvada aos pés do Monte
A Planície é um brasido...e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas
Gritam a Deus a bênção de uma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Almas! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
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