maio 30, 2006
Mais uma
Quando vou para a escola a pé - desde que cortei relações com a Carris - faço uma paragem no primeiro quiosque para ler os títulos dos jornais. Os de hoje do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, ia dizer que eram bombásticos, mas não, eram aquilo a que estamos habituados há um certo tempo. A ministra da Educação traça um quadro negro das escolas e responsabiliza os professores pelo insucesso dos alunos ( e porque não? )
maio 21, 2006
Estudos do género
Vi um artigo no Le Monde 2 sobre o livro de Judith Butler "Défaire le genre" editado agora e fiquei interessada, já há muito tempo que não leio nada sobre feminismo, como vai a reflexão sobre o tema por esse mundo. Esta escritora reflecte, por exemplo, sobre o casamento homossexual, homoparentalidade, legalidade e minorias, ostracismo, o que poderá ser um direito tolerante - uma ética não repressiva.
Apresenta o exemplo dos nascidos "intersexuados", os hermafroditas verdadeiros. Estes casos representam, pelo menos, 1,7% dos recém-nascidos. Estes seres ( é muito 1,7 em cada 100 )muitas vezes considerados como monstros não existem na nossa sociedade pois são operados à nascença e transformados em homem ou mulher por decisão dos pais e dos médicos. Segundo Butler " um modelo de humano requer morfologias ideais, impõe restrições de normas corporais...fazem uma diferenciação entre o que é humano e o que não é, entre as vidas julgadas viváveis e as que não o são." E pergunta porque é que um hermafrodita - um ideal dos gregos antigos - não teria uma existência viável. " Os intersexuados poem radicalmente em questão o princípio que reina nas nossas sociedades segundo o qual a diferença sexual entre os géneros deve ser estabelecida ou mantida a qualquer preço". Movimentos de opinião nos Estados-Unidos pressionam para que os médicos não façam essas operações aos bebés e que os deixem na idade adulta escolher o seu género ou permanecer como são. Nunca tinha pensado nisto. E pergunto-me, achando correcta esta posição, o que teria realmente eu feito se me tivesse nascido um bebé assim.
maio 15, 2006
O anti -boicote
Dentro de poucos dias estreará em quase todo o mundo o filme «O Código da Vinci», inspirado no romance do mesmo nome de Dan Brown.
Mas a estreia deste filme tem sido tudo menos pacífica:
Nas Filipinas, o ministro da presidência Eduardo Ermida afirmou que, como bom católico, não pode tolerar que o filme seja exibido em nome da liberdade de expressão, considerando-o blasfemo.
No Brasil, o piedoso deputado Salvador Zimbaldi procura impedir a exibição do filme através de uma providência cautelar que requereu nos tribunais brasileiros, e que já foi derrotada em primeira instância.
No Peru, o cardeal arcebispo de Lima, Juan Luis Ciprianim exortou os católicos a rechaçar o Demónio que atenta contra a fé e se manifesta nestes dias com uma versão que desmente a traição de Judas a Jesus, e que é precisamente esse mesmo Demónio, que está solto e cobiça as almas, quem está por trás do filme.
Na Inglaterra, a própria Opus Dei trava uma batalha judicial para evitar a estreia do filme, e insiste que a Sony Pictures deveria tomar a iniciativa de a cancelar ou, pelo menos, incluir no filme um aviso aos espectadores católicos mais atrasados mentais que o filme não passa de uma obra de ficção.
Numa ameaça perfeitamente explícita, esta ilustre organização de bons e fervorosos católicos parece querer fazer jus ao modo como é retratada no livro e, numa alusão à reacção muçulmana aos cartoons dinamarqueses, dá-se ao luxo de alertar para «as possíveis reacções que nestes tempos conturbados a exibição do filme pode ainda vir a causar».
Na Índia, o "Forum Social Católico" convocou uma cruzada de orações e também uma greve de fome por tempo indeterminado, como protesto pela estreia do filme naquele país.
Como se não bastasse, estes bons e piedosos católicos - e porque a fé move montanhas - oferecem ainda uma recompensa em dinheiro a quem capturar o escritor Dan Brown, vivo ou morto.
No Vaticano, três importantes cardeais lamentaram a ignorância religiosa que alimenta o interesse pelo romance. O próprio ministro da cultura do Vaticano, o cardeal francês Paul Poupard, dizendo que o livro distorce gravemente a história da Igreja e que as pessoas, coitadas, não têm conhecimentos religiosos suficientes para separar a realidade da ficção, apelou juntamente com outros cardeais e com o arcebispo Angelo Amato, a um boicote generalizado ao filme por parte de todos os bons católicos.
Pois bem:
Se é possível o apelo a um boicote, porque não será também possível o apelo a um "anti-boicote"?
Por mim, e independentemente da curiosidade que tenho de ver as interpretações de Tom Hanks e Audrey Tautou e de apreciar como Ron Howard transpôs para a tela a história de Dan Brown, irei logo que possa ver o filme.
Nem que seja só para marcar uma posição.
É esse precisamente o apelo que aqui deixo:
O "anti-boicote" ao filme «O Código da Vinci»!
(Publicado simultaneamente no «Random Precision» e no diário Ateísta)
Dias esquecidos
Não tenho escrito nada porque não me apetece, mas tenho visitado os sítios do costume também muitas vezes sem deixar rasto. O computador não tem facilitado : tem andado inexplicavelmente lento, como eu. A pressão de ter que escrever todos os dias nem que seja para dizer barbaridades tem efeitos contraditórios, o encontro comigo também.
De súbito nos calamos. Tudo se perde
em nós. Como se resiste? Que súbito
começo principia? Tudo se desfaz
tão repentino, apenas temos
o silêncio íntimo das estátuas.
Tudo se dissolve em nada
nos dizermos de repente.
( Luís Adriano Carlos)
De súbito nos calamos. Tudo se perde
em nós. Como se resiste? Que súbito
começo principia? Tudo se desfaz
tão repentino, apenas temos
o silêncio íntimo das estátuas.
Tudo se dissolve em nada
nos dizermos de repente.
( Luís Adriano Carlos)
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